Pois é, fui de férias sem vos deixar com as últimas ante-estreias a que tinha ido… desculpem! Mas como ainda são recentes e estão em cartaz, aqui ficam as minhas notas sobre dois bons filmes.

Ben-Hur

Ben-Hur, filme épico e histórico, realizado por Timur Bekmambetov, foi baseado no romance de 1880, “Ben-Hur: A Tale of the Christ”, de Lew Wallace. Um livro que teve outras adaptações cinematográficas com o mesmo nome, incluindo os filmes de 1925 e de 1959. Este último, a 4 de abril de 1960, fez história. Na cerimónia realizada no teatro da RKO, em Hollywood, o filme dirigido por William Wyler, levou 11 estatuetas do Oscar para casa, estabelecendo um novo recorde: 11 Oscars a partir de 12 nomeações, só perdendo a de Melhor Argumento Adaptado.
56 anos já se passaram. E, até ao momento, o recorde de Ben-Hur de 1959 mantém-se. A marca de 11 estatuetas foi alcançada por “Titanic” e “O Senhor dos Anéis - O Regresso do Rei”, mas jamais superada. Agora, tempo depois, um novo Ben-Hur chega aos cinemas. E o filme deve ser considerado como obra individual e não tido como em comparação com o clássico, até porque seria praticamente impossível superar o mesmo.

Judah Ben Hur (Jack Huston) é um nobre judeu de Jerusalém, que prega uma convivência harmoniosa com os soldados de Roma, que estavam a cercar a cidade. Cresceu ao lado do irmão adotivo, Messala (Toby Kebbell), de origem romana. Este sofre por não ter as mesmas raízes da família que o acolheu, nem por possuir o sangue nobre do irmão. Por isso, acaba por decidir ir para Roma, onde, mais tarde, se torna um importante comandante do exército de César. Messala acaba por voltar a Jerusalém e entra em conflito com o irmão. Judah vem a ser acusado de traição e condenado à escravidão. Nesse desígnio, busca incessantemente uma forma de vingar o seu nome e a sua família.

O actor brasileiro Rodrigo Santoro assume a responsabilidade de interpretar Jesus Cristo e acaba por dar um maior peso dramático ao filme. Por mais que a sua personagem não seja protagonista na narrativa principal, acaba por ser responsável por transmitir uma maior carga emocional à produção. O elenco conta ainda com as presenças de Morgan Freeman como Sheik Ilderim, mentor e benfeitor de Bem-Hur, Nazanin Boniadi e Pilou Asbæk, que não comprometem, muito pelo contrário.

Voltando ao clássico de 1959, com Charlton Heston, o mesmo tem como ponto forte a cena da corrida de quadrigas. Sabendo da responsabilidade em recriar a sequência, o novo filme investe “forte e feio” e a cena resulta emocionante, com muita ação e bons efeitos. O realizador Timur Bekmambetov é particularmente competente nas cenas de ação, como já havia demonstrado em “Guardiões da Noite” e “O Procurado”. Resumindo, temos Ben-Hur, que não decepciona quem ainda tem o clássico na memória e que conquista quem nunca viu esta trágica história entre irmãos.


Milagre no Rio Hudson

“Milagre no Rio Hudson" é um filme de drama biográfico, reaçizado e co-produzido por Clint Eastwood, que nos conta a história verídica do Voo US Airways 1549 e do piloto Chesley Burnett Sullenberger III, de 2009. Baseado na autobiografia escrita “Highest Duty: My Search for What Really Matters”, de Sullenberger e Jeffrey Zaslow, a obra cinematográfica é interpretada por Tom Hanks, Aaron Eckhart, Laura Linney, entre outros excelentes actores, sobre o episódio verídico do piloto que amarou um avião no rio Hudson sem fazer qualquer vítima.

O filme não versa a história de um acidente de avião que podia ter acabado em tragédia. É sobre tudo o que aconteceu a seguir, com o pesado processo de inquéritos que pôs em causa a decisão do piloto, Chesley “Sully” Sullenberger (Tom Hanks), e do co-piloto, Jeff Skiles (Aaron Eckhart), colocando a hipótese de, afinal, eles terem colocado em risco a vida de 155 pessoas.

O voo esteve no ar apenas seis minutos, depois de descolar de La Guardia, a 15 de Janeiro de 2009, antes de ser atingido por um bando de pássaros que danificaram os dois motores das asas. A partir desse momento, os pilotos sabiam que tinham de aterrar e a única solução que encontraram foi o rio que banha a ilha de Manhattan. Contudo, a companhia aérea e as várias equipas de especialistas vieram garantir que teria sido possível voltar a um dos aeroportos próximos, incluindo o La Guardia. E é através de “flashbacks” que vamos vivendo o momento do acidente e das decisões que se seguiram. Todo o incidente - desde o início do voo até ao salvamento da tripulação e passageiros - demorou exactamente 24 minutos. Sully teve 208 segundos para tomar decisões e executá-las. Mas tudo podia ter corrido mal...

Tom Hanks não falha ao encarnar Sully, um herói cujo título que nunca quis. E, magistralmente, mostra-nos a angústia do homem que sabe que fez o que tinha de ser feito, mas que também coloca as suas decisões em causa após tantos peritos provarem o contrário. E o realizador conseguiu fazer aquilo que onde é melhor, dando-nos um protagonista heroico, mas simultaneamente humilde e humano.

“Milagre no Rio Hudson” tem vários momentos de tensão, sobretudo nos minutos antes do avião amarar. E nisto, o filme resulta incrível, pois já sabendo nós o desfecho, as emoções passam da tela para fora e um estado de tensão apodera-se de nós, ao ponto de nos agarrarmos à cadeira. Não foi à toa que que Clint Eastwood filmou inteiramente fazendo recurso à tecnologia IMAX, tornando-se, aos 86 anos, no primeiro a fazê-lo.

Clint Eastwood acabou por trazer ao grande ecrã a história deste famoso incidente, com tudo o que foi conhecido na altura e, principalmente, tudo o que ficou fora das notícias. Muitos desconhecem o que se passou nas inúmeras audiências do inquérito ao incidente que, a dada altura, chegaram a querer culpabilizar o comandante Chesley "Sully" Sullenberger pela decisão tomada. Não percam “Milagre no Rio Hudson”e percebam porque, a 15 de janeiro de 2009, o comandante "Sully" conseguiu o que muitos julgavam impossível: a amaragem nas águas de um Airbus A320, de forma segura e sem qualquer vítima. A bordo seguiam 155 pessoas… no fundo, a história de um homem que acabou por ser um herói sem o querer.


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