Os Santos Populares estão aí e as ruas dos bairros lisboetas ganham vida, cor e animação. As Festas de Lisboa duram de 1 de Junho a 1 de Julho, tendo como ponto principal a noite de 12 de Junho e o dia de hoje, 13 de Junho, dia de Santo António. Mas, afinal, quem é este Santo? Santo António é mesmo o padroeiro de Lisboa? Porque se diz que Santo António é casamenteiro? Porque o celebramos a 13 de Junho? Como surgiram as marchas populares? De onde vem a tradição dos manjericos e das sardinhas? Tantas questões que pairam nas nossas cabeças... e eu resolvi aprofundá-las.

Baptizado com o nome de Fernando de Bulhões, nasceu em Lisboa, entre 1191 e 1195, na Rua das Pedras Negras, junto à Sé. Na casa onde nasceu e viveu a sua infância encontra-se hoje a Igreja de Santo António, e na Cripta é possível ver um pedaço de um dos ossos do Santo, autenticado por Bula. Na adolescência, ingressa na Ordem dos Cônegos Regrantes de Santo Agostinho, na Igreja de São Vicente de Fora, partindo, mais tarde, para Coimbra, onde estudou teologia. A busca pela introspecção e a simplicidade conduzem-no até à então recém-criada Ordem Franciscana, deixando de lado não só o hábito de Agostinho, mas também o seu próprio nome. Fernando adopta o nome de António, em homenagem ao eremita Santo Antão, e dedica-se a pregar as escrituras, que tão bem conhece, sobretudo após a sua mudança para Itália.

O célebre Sermão de Santo António aos Peixes, do Padre António Vieira, inspira-se precisamente na sua qualidade de pregador. Isto porque em Rimini, Itália, Santo António tentou pregar a palavra católica aos “hereges”, mas de nada serviu. O franciscano decidiu, então, pregar aos peixes, já que mais ninguém se dignava ouvi-lo.

Mas se é Santo António de Pádua, em Itália, e Santo António de Lisboa, em Portugal, como tal é possível? Ora, sendo um dos santos mais populares da Igreja Católica, é normal que existam contestações, mas apesar dos nomes diferentes, trata-se do mesmo santo. Santo António nasceu e viveu em Lisboa, mas viveu e morreu em Pádua. Ora, em Itália, todos o querem como seu, e em Portugal não restam dúvidas quanto ao nome Santo António de Lisboa. Para acabar com as contendas, o melhor é lembrar o que disse o Papa Leão XIII (1878 – 1903): “É o santo de todo o mundo”. Contemporâneo e amigo de São Francisco de Assis, Santo António é um dos santos mais populares da Igreja Católica, e a sua imagem encontra-se nas várias igrejas portuguesas, italianas, brasileiras e também no sul de França.

A razão pela qual o celebramos a 13 de Junho prende-se com o facto de Santo António ter morrido a 13 de Junho de 1231, em Arcella, perto de Pádua, em Itália. Pádua acabou por acolher o corpo do santo e sepultou-o na igreja de Santa Maria Mater Domini. No ano seguinte, a cidade decidiu edificar uma Basílica em sua honra, e a pequena igreja onde está o corpo do santo foi integrada na construção. Oito séculos passados, a Basílica de Santo António prossegue de pé e ainda hoje é a principal atracção turística em Pádua.

Restam algumas dúvidas sobre Santo António ser o padroeiro de Lisboa. Tal se deve porque entre Santo António e São Vicente, a resposta não resulta simples. São Vicente de Saragoça é o santo padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa. Já Santo António é o padroeiro principal da cidade de Lisboa. Santo António é também padroeiro secundário de Portugal (Nossa Senhora da Conceição é a padroeira principal).

E Porque se diz que Santo António é casamenteiro? Há muitas teorias e relatos de noivas que agradecem o milagre do casamento a Santo António, mas a mais certa é a que vem n’ “A Biografia do Santo do Amor”, onde Fernando Nuno relata o episódios de uma jovem devota que foi ter com frei António, pedindo-lhe ajuda para casar com o seu vizinho Filipe. Porém, havia um problema: a sua família não tinha dinheiro para o dote – por tradição, atribuído aos pais do noivo. Comovido, Santo António ter-lhe-á dito que o melhor era colocar o assunto nas mãos de Deus, mas, em segredo, pôs mãos à obra. Daquela vez, Santo António não distribuiu os donativos arrecadados, decidindo guardar o dinheiro até conseguir a quantia necessária para o casamento da jovem. Quando conseguiu, amarrou as moedas numa bolsa e atirou-a discretamente para dentro do quarto da rapariga, juntamente com uma nota: “Este é o dote que permitirá à noiva casar-se”. O livro admite que esta história possa ter várias versões, até porque “quem conta um conto acrescenta um ponto”. E há uma outra… Segundo uma tradição portuguesa do século XVII, uma mulher desesperada por encontrar marido atirou pela janela a estátua que tinha de Santo António e, por pontaria, atingiu a cabeça de um soldado que passava na rua naquele momento. Depois de ser socorrido pela própria mulher, conta-se que o soldado se apaixonou por ela e os dois acabaram por contrair matrimónio. As histórias multiplicam-se e, como sempre, o que conta é a fé e a crença. A Câmara Municipal de Lisboa, seguindo a tradição, organiza, todos os anos e nesta data, os casamentos de Santo António para casais que não têm possibilidade de pagar a cerimónia.

Por último, o que têm a ver as marchas populares com o santo? Há 82 anos que os bairros e as colectividades lisboetas desfilam oficialmente na capital. Isto porque, apesar da primeira marcha datar de 1932, os vários bairros alfacinhas já organizavam entre si alguns bailes e pequenas marchas individuais. A primeira marcha foi promovida por Leitão de Barros, a pedido de Campos Figueira, então Director do Parque Mayer. A ideia era a de chamar os bairros lisboetas a mostrarem o melhor de si, dos trajes às músicas, e provar a união da alma alfacinha à volta da celebração de Santo António. À primeira marcha, apenas os bairros de Alto do Pina, Campo de Ourique e Bairro Alto compareceram à chamada.
Quanto à tradição dos manjericos e das sardinhas, não se conhece qualquer relação entre Santo António e estes dois símbolos das Festas de Lisboa. Até porque o manjerico e a sardinha são símbolos de todas as festas populares do mês de Junho, incluindo São João e São Pedro. A sardinha, peixe dos mares portugueses, tem a partir da primavera a sua época alta. A primavera é também a época associada ao amor e, na tradição popular das festas, era costume os rapazes comprarem um manjerico (também conhecido como a erva dos namorados) num pequeno vaso, para oferecer à sua amada. O facto de as condições da primavera e do verão serem as ideais para o crescimento dos manjericos ajudou a que a planta se tornasse tão popular nesta altura.


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