Primeiro, foi o “hygge” dinamarquês. Agora, surge o “lagom” sueco, que poderá bem tornar-se no novo estilo de vida “sensação”. E antes de partirmos de férias - o meu blog e eu - deixo aqui uma reflexão, mas acreditem, vou tratar de ser feliz…

Para quem não sabe, o “hygge” (pronuncia-se huga) é a “obsessão” pelo acolhedor e confortável oriunda da Dinamarca, tendo sido um dos fortes candidatos a palavra do ano em 2016. Mas este ano surge um novo way of life escandinavo que também promete conquistar muita gente e, quiçá, tornar-se firme candidato a palavra do ano 2017… Originário da Suécia, denomina-se “lagom” (pronuncia-se laghum), que apesar de não ter tradução direta para outras línguas, tal como a palavra portuguesa “saudade”, quer aproximadamente dizer “a quantidade certa”, “moderação” ou “menos é mais”, dependendo dos contextos.

Na actualidade, em que as pressões sociais parecem existir por todo o lado, o stress no trabalho está muitas vezes a rebentar pelas costuras e a nossa vida é, literalmente, uma correria, o “lagom” convida-nos a “evitar o excesso e a limitação extremos, o que nos permite entender melhor o que nos faz felizes e o que funciona para o nosso bem-estar mental”, segundo o psicólogo Niel Eék. E o que é que tal significa? No fundo, é deixar de fazer o que é desnecessário ou supérfluo. Ou seja, por exemplo, se estamos numa fila que está a demorar muito, para quê discutirmos e mostrar-nos muito chateado se lá temos de continuar? Não só não resolvemos nada, como ainda estaremos a incomodar outras pessoas… E para quê ficarmos a trabalhar horas e horas depois da nossa hora de saída, se podemos estar mais atentos nas horas efectivas de trabalho, podendo planear melhor o nosso dia e até delegar algumas tarefas?

Perceberam agora? A ideia é a de promover a calma e desincentivar tudo o que é realmente desnecessário, seja em termos de esforço, stress ou limitações.

Porém, surge-me uma dúvida: porque é que o índice de suicídios é mais elevado nos países considerados “mais felizes”, como a Dinamarca e a Suécia? Não é um paradoxo? Têm dois conceitos que promovem a felicidade e o bem-estar, porém, também estão entre os países com mais suicídios. É um facto: as maiores taxas de suicídio são registadas nos países considerados “mais felizes”. Estes dados são enfatizados no estudo “Dark Contrasts: The Paradox of High Rates of Suicide in Happy Places”, de 2011, elaborado conjuntamente por pesquisadores da britânica Universidade de Warwick e pelos norte-americanos Hamilton College e a Universidade de São Francisco.

Os responsáveis pelo estudo pretendiam documentar e analisar as causas desta paradoxal relação entre felicidade e suicídio, entendendo por “felicidade” um conjunto de aspectos de natureza material, como ter dinheiro suficiente, boa moradia, comida, roupa, carro e lazer q.b., além de uma vida saudável, livre de privações e com autonomia para cuidar de si próprio. O estudo teve em consideração as primeiras posições na lista dos países considerados pela revista Forbes como os “mais felizes do mundo”, bem como os seus índices de suicídio. Os 10 países, no ano do estudo, eram, por ordem de primeiro a décimo, a Noruega, a Dinamarca, a Finlândia, a Austrália, a Nova Zelândia, a Suécia, o Canadá, a Suíça, os Países Baixos e os Estados Unidos. Por sua vez, esta lista baseava-se no chamado “Índice de Prosperidade”, elaborado pelo Instituto Legatum, de Londres, que classifica 110 países.

As conclusões do estudo indicaram que os países mais destacados na “lista da prosperidade” eram, ao mesmo tempo, os que apresentavam os índices mais altos de suicídio. E observam que tal paradoxo tem a ver com uma comparação entre o nível de felicidade dos suicidas e o nível de felicidade dos outros: a felicidade alheia seria um factor de risco para as pessoas de baixa auto-estima, descontentes por viver em lugares onde o resto dos indivíduos demonstra mais felicidade do que elas.
Tais conclusões questionam outras que, até então, atribuíam o índice de suicídios em países nórdicos às características particulares do próprio país, como as escassas horas de luz solar no inverno. Eram também apontadas diferenças culturais e atitudes sociais em relação com a felicidade e com o modo de conceber a vida.

Como conclusão, os autores do estudo indicam que “os seres humanos podem construir as suas normas mediante a observação do comportamento e dos resultados atingidos por outras pessoas e tendem a julgar a sua própria situação com menos dureza quando observam outras pessoas com resultados similares aos seus”.

Finalizando: onde entramos nós, os portugueses? Segundo Meik Wiking, o homem mais feliz do mundo, presidente do Happiness Research Institute e autor de “O Livro do Hygge — O segredo dinamarquês para ser feliz”, os portugueses estão cada vez mais felizes. “Neste momento, parece que há um sentimento de otimismo no país. E no futuro, Portugal poderá ser um dos países mais felizes do mundo. Acredito que alguns valores partilhados pelos portugueses conduzem à felicidade porque realçam a formação de relações sociais de proximidade com família e amigos. Ah, e também acho que os dinamarqueses e os portugueses têm em comum o facto de serem pessoas relaxadas e talvez menos competitivas do que na Coreia do Sul ou nos Estados Unidos. Não vejo razões por que Portugal, a longo prazo, não possa estar mais próximo dos países mais felizes do mundo.

Recordo que segundo o relatório anual da Organização das Nações Unidas de 2016, Portugal é considerado o 94º país mais feliz do mundo numa lista total de 157. Portanto, estamos atrás de países como o Paquistão, Hungria, Sérvia e China e à frente do Afeganistão, Síria e Burundi, que ocupam os últimos lugares da lista. Provavelmente, a razão pela qual Portugal está numa posição mais baixa do que as expetativas — em relação ao desenvolvimento da economia social do país — pode-se explicar pela tendência de comparar a nossa situação com a dos outros. Por exemplo, a satisfação com o seu salário depende não só de quanto se ganha, mas de quanto ganham os nossos amigos e família — se, por hora, ganharmos oito euros e toda a gente ganhar 10, vamos sentir-se menos feliz do que se ganharmos cinco euros e os outros três…

Concluindo, como se consegue perceber quão feliz uma pessoa possa ser? Acho que o problema de medir a felicidade é que a mesma é um fenómeno muito subjetivo. O que a felicidade é para mim pode não ser o que é para vocês... mas acreditem, com as férias à porta, o meu índice de felicidade subiu consideravelmente. Tratem de ser positivos e felizes, pois torna-vos mais saudáveis.

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