Fui à ante-estreia de “Ready Player One” no IMAx e… uau! Este é um excelente filme de ficção científica produzido e realizado por Steven Spielberg, com argumento de Zak Penn e Ernest Cline, baseado no romance de 2011 do mesmo nome escrito por Cline. O elenco conta com Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, T. J. Miller, Simon Pegg e Mark Rylance.

Situado numa Terra distópica do futuro (cerca de 2045), a população despende a maior parte do seu tempo num espaço virtual interconectado chamado OASIS. Tal deve-se a divisões sócio-económicas acentuadas e, para escapar às agruras do dia-a-dia, as pessoas evadem-se em massa para o tal universo virtual, criado por um génio excêntrico chamado James Halliday (Mark Rylance), uma espécie de Bill Gates da realidade artificial. Uma vez no OASIS, cada um possui o avatar que lhe apetece e pode viver as aventuras mais inimagináveis, como se estivesse metido num imenso e pluriforme jogo de vídeo.

Quando o fundador de OASIS morre, deixa a propriedade do programa, bem como toda a sua fortuna, para a primeira pessoa que encontrar as três chaves escondidas nele, a jogar e a resolver enigmas. Toda a gente compete, sem sucesso, para ficar de posse das respectivas chaves. Através do seu avatar, Parzifal, o alter-ego do jovem Wade Watts (Tye Sheridan) consegue descobrir a primeira chave. Acompanhado por quatro amigos, um deles uma activista anti-sistema, Samantha (Olivia Cooke), Wade lança-se numa cerrada e alucinante busca para resolver o mistério do OASIS, tendo ao mesmo tempo que combater a megacorporação maligna que também disputa o controlo de OASIS. Esta IOI tem planos pouco lúdicos para usar aquele universo virtual em proveito da sua conta bancária.

A acção do filme avança como se de um colossal jogo de vídeo se tratasse, disputado quer no OASIS, quer no mundo “real”, entre personagens e os seus avatares. E Spielberg vai-nos envolvendo com referências contínuas da cultura popular dos anos 80 (e não só), com um T-Rex a perseguir um DeLorean e um King Kong a destruir a mota do herói de “Akira”, onde um avatar se veste como Buckaroo Banzai para ir dançar em gravidade zero numa discoteca ao som da música dos Bee Gees de um dos filmes “disco” de John Travolta, e o Gigante de Ferro empreende uma luta com o Mechagodzilla. E ainda é preciso jogar num velho Atari para resolver um enigma.

De facto, em “Ready Player One: Jogador 1”, Spielberg evoca e celebra os anos 80, uma década que lhe é muito querida em termos pessoais e também durante a qual realizou alguns dos seus filmes mais significativos (tais como “Os Salteadores da Arca Perdida” e “E.T. — O Extraterrestre”). Por isso, ninguém melhor que Steven Spielberg poderia levar às telas a adaptação de “Jogador Nº 1” de Ernest Cline. O cineasta era sinónimo de aventura infanto-juvenil (juntamente com George Lucas, Robert Zemeckis, Richard Donner e tantos outros que transformaram o mundo e a cultura pop quatro décadas atrás) e aqui ele lembra-se disso. O “mestre” retorna à sua melhor forma, homenageando essa época tão importante. As pessoas “vão [para o OASIS] por tudo o que conseguem fazer, mas ficam por tudo o que podem ser”, diz Wade Watts, mas a realidade é sempre melhor do que a realidade virtual, segundo se afirma no fim do filme. Este mundo de luvas hápticas e visores “vai ser a super droga do futuro”, diz o realizador em entrevistas. Mas Spielberg também quer divertir-se ao divertir-nos. “Quando realizo um filme como este, estou no assento mesmo ao vosso lado. Significa que o faço para vocês. E a vossa reação é tudo.” Foi o que Spielberg admitiu ao “New York Times” aquando da primeira apresentação do filme no festival South by Southwest, no Texas. “Senti-me como se tivesse 10 anos outra vez!”.

“Nos meus primeiros filmes, de “Tubarão” a “E.T.”, estava a contar a história a partir do lugar do espectador na sala de cinema – do público, para o público – e já não fazia isso há muito tempo. Na verdade, não o faço desde “Parque Jurássico” e isso foi nos anos 90”. Porém, “Ready Player One: Jogador 1” também foi a forma que o realizador encontrou para se atualizar. Ao ampliar as referências do filme ele mostra que não apenas entende as preferências de uma nova geração, como também seu comportamento. O argumento de Zak Penn e do próprio Ernest Cline está repleto de momentos subtis sobre quem somos hoje - sobre a sociedade online, conectada e ao mesmo tempo desligada da realidade.

Estou certo de que “Ready Player One: Jogador 1” está para a Realidade Virtual como “Avatar” esteve para o 3D. Este divertido filme ciber-pop empolga-nos por mais de duas horas sem que demos por isso, e deixa-nos com uma “mensagem” no ar, sobre os perigos de nos deixarmos absorver demasiado no mundo do entretenimento virtual e de perdermos o sentido da realidade. Trata de uma boa recriação de ambiente virtual para o cinema e não algo que faça bocejar o gamer mais ferrenho. Mas não se esqueçam da sua mensagem: a realidade é a única coisa que é real. Existem outros conteúdos que valem a pena, para além de ficarmos a queimar as pestanas diante dos monitores.

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